ESTE ANO MARCA o centenário do matemático Alan Turing (1912-1954), efeméride com uma série de motivos para ser celebrada. Considerado pai da computação e da inteligência artificial, Turing também deu uma contribuição importante para derrotar Hitler na Segunda Guerra Mundial, após decifrar a máquina Enigma, que os nazistas usavam para encriptar suas mensagens. Homossexual vivendo numa Inglaterra onde ser gay era crime, porém, o pesquisador foi condenado à castração química e se suicidou aos 41 anos, tornando-se mártir da luta contra a homofobia. A mais famosa das questões formuladas pelo cientista, porém, chega ao ano de seu centenário sem uma resposta.
Caso um robô seja suficientemente avançado para se passar por um ser humano em uma conversa, seria correto atribuir inteligência e consciência a essa máquina?
Essa dúvida começou a ser explorada pelo matemático inglês no experimento imaginário que ficou conhecido como “teste de Turing”. Sua idéia básica era submeter um computador e um humano a questões genéricas formuladas e arbitradas por uma outra pessoa. O interrogador poderia ver as respostas por escrito, mas sem saber quem as proferiu. Caso o árbitro fosse incapaz de diferenciar as respostas robóticas das humanas, o robô teria passado pelo teste.
Hoje, por mais que os usuários de iPhone estejam entusiasmados com o sucesso de Siri (a assistente virtual do telefone da Apple), a maioria dos especialistas em inteligência artificial não considera que ela ou qualquer máquina mais avançada já tenha passado pelo teste de Turing.
Dá um certo arrepio, porém, ouvir aquela voz sexy respondendo de maneira informal às questõesabsurdas que os usuários fazem. E foi meio assustador ver no ano passado o supercomputador Watson, da IBM, derrotar campeões humanos do quiz show americano Jeopardy. A capacidade daquele robô de entender o contexto de questões genéricas enquanto
vasculhava a internet
consultava textos que tinha baixado da internet foi algo um nível acima da habilidade de Deep Blue, a máquina da IBM que derrotara o campeão de xadrez Garry Kasparov em 1997.
Watson ainda não é capaz de travar um diálogo normal fora do contexto de um quiz show, mas acabou incendiando o debate, que andava meio desanimado. Entusiastas da inteligência artificial na década de 1960, como Marvin Minsky e Herbert Simon, não tinham antecipado a dificuldade que os robôs encontrariam para emular habilidades humanas tão simples como a decodificação de padrões visuais. Pode parecer ridículo, mas é mais difícil fazer um computador reconhecer uma celebridade numa capa de uma revista do que vencer uma partida de xadrez.
“Por volta de 1995, a maior parte dos pesquisadores sérios em inteligência artificial já tinha desistido de falar em máquinas passando pelo teste de Turing original”, afirma Robert French, cientista cognitivo da Universidade da Borgonha, em artigo na edição de hoje da revista “Science”. A capacidade dos novos robôs de minerar dados na internet, porém, acabou mudando esse cenário e ele questiona agora se uma versão aprimorada de Watson não seria capaz de passar no teste de Turing.
No ano passado, o cientista cognitivo americano Ben Goertzel publicou o resultado de umaenquete que ele e seu pai, o sociólogo Ted Goertzel, fizeram com 21 especialistas da área, sem citar nomes. Os votantes responderam a um questionário que lhes havia sido entregue num congresso sobre inteligência artificial. “Dezesseis deles deram uma data anterior a 2050 como sua melhor estimativa para que o Teste de Turing seja batido”, disse Goerztel em estudo na revista “Techonological Forecasting & Social Change”. Entre os outros entrevistados, as opiniões eram divergentes. “Um especialista estimou que haveria 25% de probabilidade de o teste de Turing jamais ser batido (…). Outro disse que há 90% de chances de que seja batido até 2016.”
Esse tipo de questão, claro, não se resolve com enquetes. E o desejo dos entrevistados de permanecerem no anonimato é um claro sinal de seu medo de queimar a língua. O levantamento de Goertzel, porém, mostra que a possibilidade de os robôs baterem o teste de Turing já não é considerada uma coisa tão fora da realidade.
O cientista, porém, explica que falta aos robôs não apenas adquirir certo tipo de inteligência, mas também simular ignorância. Qual é a raiz cúbica de 758.347.032.231? Se você responder a essa questão corretamente em menos de um segundo, o árbitro do teste de Turing vai descobrir que você é um robô.
Na opinião de Robert French, esse tipo de problema é até superável. O que faz falta, diz, é um conjunto de regras mais claras para o teste de Turing, em tempos onde a internet está acessível em todo lugar. “A primeira questão é se esse tesouro de dados pode ser usado sem restrições por uma máquina para passar no teste de Turing”, escreve. “A segunda questão, postulada originalmente por Turing, é se uma máquina que tenha passado pelo teste usando essa tecnologia deve necessariamente ser considerada inteligente.”
Em outras palavras, é meio como se os robôs estivessem pedindo licença para “colar” na prova. O problema, suspeito, vai acabar caindo no atoleiro filosófico que é tentar definir a própria inteligência. Será que nossa capacidade de raciocínio é totalmente dissociável do nosso conhecimento, aquelas coisas que sabemos por memória?
Eu, pessoalmente, acho que os cientistas deveriam autorizar a “cola”. Se um processador numa placa de silício é uma maneira válida de simular raciocínios, acredito que a internet deva ser válida como uma simulação de informações memorizadas. Até nós, seres humanos, já estamos desacostumados a fazer qualquer coisa que seja sem abrir antes o Google.
Então tá liberado, seu Turing?
Caso um robô seja suficientemente avançado para se passar por um ser humano em uma conversa, seria correto atribuir inteligência e consciência a essa máquina?
Essa dúvida começou a ser explorada pelo matemático inglês no experimento imaginário que ficou conhecido como “teste de Turing”. Sua idéia básica era submeter um computador e um humano a questões genéricas formuladas e arbitradas por uma outra pessoa. O interrogador poderia ver as respostas por escrito, mas sem saber quem as proferiu. Caso o árbitro fosse incapaz de diferenciar as respostas robóticas das humanas, o robô teria passado pelo teste.
Hoje, por mais que os usuários de iPhone estejam entusiasmados com o sucesso de Siri (a assistente virtual do telefone da Apple), a maioria dos especialistas em inteligência artificial não considera que ela ou qualquer máquina mais avançada já tenha passado pelo teste de Turing.
Dá um certo arrepio, porém, ouvir aquela voz sexy respondendo de maneira informal às questõesabsurdas que os usuários fazem. E foi meio assustador ver no ano passado o supercomputador Watson, da IBM, derrotar campeões humanos do quiz show americano Jeopardy. A capacidade daquele robô de entender o contexto de questões genéricas enquanto
vasculhava a internet
consultava textos que tinha baixado da internet foi algo um nível acima da habilidade de Deep Blue, a máquina da IBM que derrotara o campeão de xadrez Garry Kasparov em 1997.
Watson ainda não é capaz de travar um diálogo normal fora do contexto de um quiz show, mas acabou incendiando o debate, que andava meio desanimado. Entusiastas da inteligência artificial na década de 1960, como Marvin Minsky e Herbert Simon, não tinham antecipado a dificuldade que os robôs encontrariam para emular habilidades humanas tão simples como a decodificação de padrões visuais. Pode parecer ridículo, mas é mais difícil fazer um computador reconhecer uma celebridade numa capa de uma revista do que vencer uma partida de xadrez.
“Por volta de 1995, a maior parte dos pesquisadores sérios em inteligência artificial já tinha desistido de falar em máquinas passando pelo teste de Turing original”, afirma Robert French, cientista cognitivo da Universidade da Borgonha, em artigo na edição de hoje da revista “Science”. A capacidade dos novos robôs de minerar dados na internet, porém, acabou mudando esse cenário e ele questiona agora se uma versão aprimorada de Watson não seria capaz de passar no teste de Turing.
No ano passado, o cientista cognitivo americano Ben Goertzel publicou o resultado de umaenquete que ele e seu pai, o sociólogo Ted Goertzel, fizeram com 21 especialistas da área, sem citar nomes. Os votantes responderam a um questionário que lhes havia sido entregue num congresso sobre inteligência artificial. “Dezesseis deles deram uma data anterior a 2050 como sua melhor estimativa para que o Teste de Turing seja batido”, disse Goerztel em estudo na revista “Techonological Forecasting & Social Change”. Entre os outros entrevistados, as opiniões eram divergentes. “Um especialista estimou que haveria 25% de probabilidade de o teste de Turing jamais ser batido (…). Outro disse que há 90% de chances de que seja batido até 2016.”
Esse tipo de questão, claro, não se resolve com enquetes. E o desejo dos entrevistados de permanecerem no anonimato é um claro sinal de seu medo de queimar a língua. O levantamento de Goertzel, porém, mostra que a possibilidade de os robôs baterem o teste de Turing já não é considerada uma coisa tão fora da realidade.
O cientista, porém, explica que falta aos robôs não apenas adquirir certo tipo de inteligência, mas também simular ignorância. Qual é a raiz cúbica de 758.347.032.231? Se você responder a essa questão corretamente em menos de um segundo, o árbitro do teste de Turing vai descobrir que você é um robô.
Na opinião de Robert French, esse tipo de problema é até superável. O que faz falta, diz, é um conjunto de regras mais claras para o teste de Turing, em tempos onde a internet está acessível em todo lugar. “A primeira questão é se esse tesouro de dados pode ser usado sem restrições por uma máquina para passar no teste de Turing”, escreve. “A segunda questão, postulada originalmente por Turing, é se uma máquina que tenha passado pelo teste usando essa tecnologia deve necessariamente ser considerada inteligente.”
Em outras palavras, é meio como se os robôs estivessem pedindo licença para “colar” na prova. O problema, suspeito, vai acabar caindo no atoleiro filosófico que é tentar definir a própria inteligência. Será que nossa capacidade de raciocínio é totalmente dissociável do nosso conhecimento, aquelas coisas que sabemos por memória?
Eu, pessoalmente, acho que os cientistas deveriam autorizar a “cola”. Se um processador numa placa de silício é uma maneira válida de simular raciocínios, acredito que a internet deva ser válida como uma simulação de informações memorizadas. Até nós, seres humanos, já estamos desacostumados a fazer qualquer coisa que seja sem abrir antes o Google.
Então tá liberado, seu Turing?
Fonte: http://teoriadetudo.blogfolha.uol.com.br/2012/04/13/o-teste-de-turing-robo-pode-colar/
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